Estamos vivendo novamente uma crise do setor de energia no Brasil. Muitos especialistas, governos e entidades têm discutido sobre as causas do risco de um apagão, mas eu gostaria de dar uma abordagem mais positiva e refletir sobre como podemos atacar o problema pelo lado da inovação e da transformação digital.
Do lado da oferta, os desafios do setor passam pela nossa matriz energética, que ainda é muito dependente de hidrelétricas e termoelétricas. Passam pelos movimentos da natureza e mudanças climáticas, que levam a menor quantidade de chuvas nos reservatórios, mas também pela performance das usinas no consumo de água, pelo desperdício e baixa performance na transmissão e pela falta de planejamento da demanda na geração e distribuição. (Fonte: OESP/EPE/ONS)
Pelo lado da demanda, há indústrias e consumidores ávidos a produzirem e consumirem mais, visando a retomada econômica pós pandemia, mas muitas vezes sem uma previsibilidade e planejamento adequado das necessidades atuais e futuras.
Outro aspecto importante a observar é a perspectiva da sustentabilidade, tanto do lado da oferta quanto da demanda. Quanto mais produzem, empresas, escritórios e indústrias emitem mais CO2. Segundo a Schneider Electric, (2021), edifícios respondem por 40% da emissão de CO2 do mercado total de energia (toda a cadeia produtiva), aqui pela construção civil e operação diária, enquanto indústrias respondem pelos outros 40%, dado todo o parque fabril e a cadeia de insumos. Desta forma nos perguntamos será que é possível termos atividade produtiva em alta e ao mesmo tempo sustentável?
Olhando nossa matriz energética (atual e futura) novamente, nos leva a crer que o setor passa por uma nova encruzilhada. Portanto o desafio continua sendo conectar consumo e demanda de forma inovadora e sustentável, seja econômica – com modelos financeiros viáveis para todos , ambiental – visando o equilíbrio do planeta e social – levando benefícios para a comunidade.
A Transformação Digital do setor – A Energia 4.0
É aqui que entra a inovação e transformação digital, entram em cena. Elas devem ser pensadas e executadas para reduzir os riscos apontados anteriormente e guiar a resolução dos desafios do setor.
O encontro da criatividade, negócios e claro, tecnologia, que tem um papel fundamental e deve ser tratada como um meio, já que é passível de escalabilidade e acessibilidade, tende a mudar o modo como os negócios e tecnologias interagem com consumidores e a sociedade.
Sabemos que estamos passando pela Quarta Revolução Industrial, termo cunhado por Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial (Davos) no seu livro “A Quarta Revolução Industrial”.
Esta é uma revolução que tem como habilitadores, do ponto de vista tecnológico, a inteligência (IA), a Internet das Coisas (IoT) e a computação em nuvem
No setor de energia especificamente, podemos dizer que vivemos a era da Energia 4.0, onde geração, distribuição e consumo, serão transformados com o uso cada vez maior de sensores e Internet das Coisas (IoT), processamento na nuvem e Inteligência tanto no lado da oferta quanto da demanda, ou seja, em toda a cadeia produtiva.
Por exemplo, a utilização de sensores e mapeamento por satélite no combate a incêndios e desmatamento, como parte inicial para mitigar o problema, mas também no combate ao desperdício na distribuição e consumo de água.
Modelos estatísticos e algoritmos mais inteligentes junto com softwares e plataformas integradas de gestão e operação, podem ser aplicados para o planejamento do setor, garantindo que oferta e demanda estejam alinhadas.
No Brasil, as hidrelétricas usam um modelo de cálculo de demanda baseados na “garantia física” o que, segundo especialistas do setor, tem levado a uma superestimativa da oferta, acarretando erros na projeção futura da demanda e na construção de novas usinas. Modelos usando IoT, inteligência e blockchain podem ajudar na precificação tanto para governos, como para os consumidores.
Outra perspectiva é entender o consumo e o consumidor por meio da Internet das Coisas e virtualização de vários serviços é extremamente importante para poder projetar a demanda, incentivar o uso racional dos meios existentes e mais do que isto provocar o consumidor a pensar no planeta de forma mais sustentável. O smart grid, ou seja, dar inteligência à distribuição é uma forma de conectar as necessidades dos consumidores com o planejamento da demanda.
Portanto , devemos ter um olhar cada vez maior na diversificação da matriz energética, no sentido de energias renováveis (eólica, solar, biomassa, entre outras), aliadas com o uso de tecnologias digitais, que poderão ajudar a melhorar a eficiência da cadeia produtiva e do setor energético, incentivar uma maior sustentabilidade do planeta e definitivamente alcançarmos a quarta revolução energética ou a Energia 4.0.
Texto escrito por Andre Gildin, sócio da RKKG Consuting em parceria com Recursus