Que a vida contemporânea depende das conexões de telecomunicações, não é surpresa. Mas infelizmente, a falta de cobertura e a experiência ruim do usuário são comuns em muitas localidades brasileiras. Isso se estende de pessoas a empresas.
Telecomunicações é um tema crítico e estratégico para o país. Seu desenvolvimento passa obrigatoriamente pela melhora da sua infraestrutura, tanto para ampliar sua cobertura quanto para melhorar a qualidade e conectividade. Isso porque, mesmo nas áreas atendidas, há uma forte insatisfação entre os clientes [As operadoras estão no topo da lista de reclamações do Procon].
A implantação do 5G vai de encontro a esses problemas, afirmando maior alcance e velocidade e prometendo aumentar nossa competitividade. Mas, há desafios a serem enfrentados.
Entre eles, o 5G demandará um grande fluxo de dados em alta velocidade. Para isso é imperativo garantir maior capacidade de transmissão e melhor infraestrutura. E é aqui que as redes neutras de fibra óptica entram no enredo.
5G e Fibra óptica? Sim. As telecomunicações dependem de uma rede de suporte que interligue seus pontos de distribuição e a fibra óptica é um dos principais meios para viabilizar essa capilarização, oferecendo alta capacidade de transmissão e resistência às interferências eletromagnéticas. Isso tudo considerando que uma rede rápida e com menor latência é fundamental para a implantação do 5G.
Até então, o caminho trilhado pelas operadoras foi investir em infraestrutura própria despendendo consideráveis investimentos financeiros (Capex). Adiante, desenha-se outro caminho: o desmembramento do setor em empresas focadas no cliente final e outras focadas em fornecer infraestrutura física de rede.
Nesse modelo, as empresas detentoras da infraestrutura de fibra óptica ofertam suas redes em formato de “aluguel” para outras operadoras e provedores trafegarem seus serviços até os usuários finais. Essas são as chamadas redes neutras.
O que é uma rede neutra então?
Como já dito, rede neutra é uma forma de “aluguel” da infraestrutura de rede de telecomunicações para diversas outras operadoras, como uma plataforma de compartilhamento da infraestrutura física a fim de atender as necessidades de crescimento do segmento de telecomunicações e otimizar investimentos.
Esse formato é semelhante ao compartilhamento de torres de telefonia móvel, amplamente utilizado no Brasil, e cada vez mais popular mundo a fora. Agora podemos ver essas empresas também compartilhando a mesma infraestrutura por meio de uma rede neutra.
Por que uma rede neutra?
As operadoras de telecomunicações têm fortes compromissos com o governo brasileiro em fornecer a universalização das comunicações. No entanto, algumas localidades são difíceis de alcançar, ou seu atendimento não tem o desempenho satisfatório às necessidades dos usuários.
O problema normalmente não está na tecnologia, mas em torná-la comercialmente viável. Por exemplo, podemos comparar com linhas de ônibus que atravessam áreas remotas ou estádios esportivos que passam longos períodos sem uso.
A abordagem de rede neutra abrange esse problema econômico, promovendo um modelo de negócio que se baseia no compartilhamento de infraestrutura de fibra óptica para otimizar investimentos e capilarizar a cobertura.
Como funciona?
Para se ter uma rede neutra, parte-se do estabelecimento de um operador “neutro”, o qual detém a infraestrutura pela qual outras empresas trafegarão seus serviços. O termo “neutro” se refere à necessidade do “dono” da rede não interferir na fluidez do tráfego de seu cliente.
Parênteses. A utilização da mesma rede por diferentes operadoras é possível graças a tecnologias como VLANs (Virtual Local Area Networks), que permitem a criação de redes virtuais na camada de enlace do modelo OSI.
De forma prática, um operador de fibra neutra “aluga” sua infraestrutura a vários outros operadores, os quais podem atender usuários de cidades inteiras sem os altos investimentos de se construir sua própria infraestrutura. Essa rede alugada pode se estender até o poste ou até à casa do usuário (modelo conhecido como “ponta-a-ponta”). Além disso, pode se estabelecer uma terceira empresa para a manutenção da rede.
Vantagens
A economia de escala desse modelo permite a entrega de conexões nos locais mais distantes, evitando a sobreposição e redundância de infraestrutura de rede em uma determinada região. Isso significa descentralizar a conectividade e massificar a banda larga para promover o desenvolvimento de regiões cuja infraestrutura de telecomunicações é precária.
Assim, a abordagem de rede neutra pode impulsionar a cobertura no Brasil de redes de alta qualidade, permitindo que as operadoras focalizem sua prioridade: melhorar a experiência do usuário final com serviços de qualidade.
Esta é uma ótima notícia para o público e as empresas que necessitam de conexões aprimoradas, bem com, suporte a tráfegos crescentes. Infraestrutura abrangente, descentralizada e integrada é a base para maior resiliência de sistemas críticos como de telecom. Além disso seu compartilhamento possibilita ao usuário ter maior liberdade e opções de contratação de serviços, benefício esse propiciado pela maior concorrência gerada por esse modelo.
Para as operadoras, as redes neutras constituem uma estratégia que viabiliza a expansão no país. Esse modelo, baseado em “asset light”, pode reduzir o investimento inicial de novas operações e oferecer escalabilidade a novos serviços. O que é um diferencial competitivo para teltechs e uma alavanca para maximizar investimentos em novos serviços e aplicações para o usuário final.
Para as cidades, a adoção massiva de redes neutras permitirá melhorar a grande bagunça de cabos em postes de energia, pois com operadoras compartilhando os mesmos cabos seria possível remover vários outros, evitando o acúmulo de “desordem de telecomunicações” em espaços públicos sem perder capilaridade e qualidade.
Um passo para o 5G [and beyond]
A alta capilaridade é importante pois o 5G exigirá muito mais antenas do que temos disponível hoje. Simplificadamente, como a frequência das ondas de 5G é mais alta, o alcance é menor. E para atender as novas (e represadas) demandas é necessário maior adensamento de antenas e, consequentemente, ampliar a infraestrutura conectada à fibra óptica.
O 5G exige que mais infraestrutura seja instalada. Nesse aspecto, redes neutras podem reduzir os custos de sua implantação, otimizando esforços e rentabilizando investimentos em prol da ampliação da cobertura.
As expectativas são interessantes e delineiam caminhos possíveis para tornar tecnologias como o 5G viáveis com o emprego de redes neutras. Para além disso, maior cobertura, melhor conectividade e inclusão digital, são requerimentos indispensáveis para o nosso futuro.
Quer saber mais? Entre em contato conosco. Somos especialistas em projetos de engenharia de telecomunicações com mais de 25 anos de experiência em soluções sob medida.
Texto escrito por Júlio Franco do Hub Inovação da Recursus